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domingo, 17 de janeiro de 2016

É hora de unificar a luta do folião à luta dos trabalhadores

De volta à Cadência, o colunista Professor Mariano comenta a ação dos sambistas contra o cancelamento dos desfiles carnavalescos em algumas cidades do interior fluminense e compara com as mobilizações dos trabalhadores nas ruas. Afinal, assim como a educação, a saúde e a tarifa do transporte público, o carnaval também é um direito do povo.

Confira a opinião do Professor Mariano

“É hora de unificar a luta do folião à luta dos trabalhadores”
por Professor Mariano

Eu acho um equívoco de algumas pessoas, estarem protestando de forma individual contra o corte de verbas e do cancelamento do carnaval, que algumas prefeituras estão fazendo.

Em vez de neste momento estes amantes do carnaval juntarem-se com os trabalhadores, nas manifestações de rua contra estes mesmos governos que não só cortam verbas da cultura carnavalesca, mas de outras áreas tão cara à vida do trabalhador, como saúde e educação. Este sambista numa atitude a meu ver individualista e fragmentada faz protestos isolados tentando mais na base do “acordão” do que protesto mesmo fazer com que estes governos se sensibilizem pela sua luta.

O carnaval como a educação, a saúde e a tarifa social do transporte público, é direito do povo trabalhador que paga seus impostos a burocracia estatal. Então caro folião, no exato momento que esse mesmo governo canalha em nome de uma suposta “crise”, que a gente sabe que é na verdade, consequência da roubalheira e saque que políticos e empresários fazem há séculos no Estado brasileiro. É portanto um contrassenso, vocês irem para a porta da prefeitura para reivindicar apenas a realização do carnaval. Deixando de lado, outros problemas, que também diz respeito a vocês sambistas. Isto porque, o seu filho estuda em escola pública, sua esposa precisa da consulta médica e você anda de ônibus caro.

Já passou da hora de nós que militamos no mundo do carnaval deixarmos de sermos, massa de manobra na mão de político safado. Todos os problemas que temos hoje no carnaval do Estado do Rio de Janeiro, é fruto de uma política equivocada que muitos foliões vêm praticando quando vão sentar à mesa para discutir com o poder público. Nas ultimas décadas a maioria das agremiações carnavalescas vêm fazendo seus carnavais a partir de um apoio quase que exclusivo do poder público. Com isso acaba institucionalizando o carnaval dentro das entranhas do Estado. Negando a essência da festa de momo, que como dizia o inesquecível intelectual russo Bakhtin, era sua anarquia e desfiliação da ordem estatal por quatro dias. O resultado desta dependência estatal é que a cada ano o Estado vêm controlando e alterando o carnaval ao seu bel prazer. Criando medidas esdruxulas como, têm que beber apenas uma marca de cerveja, não pode urinar na rua, mesmo quando a multidão é bem maior que os banheiros disponíveis e outras baboseiras que vêm transformando o carnaval numa grande chatice do politicamente correto.

Esta dependência em relação ao poder público faz com que, no momento em que o Estado se diz em “crise”, ele descarte a festa carnavalesca de uma forma rápida e simples. Aí o folião, o sambista que se afastou da sua comunidade, de sua turma, não vê outra solução política para tal impasse, do que ficar de pires na mão em frente à prefeitura, pedindo esmola a político corrupto. Se o poder público não quer mais o carnaval vamos fazer o carnaval sem ele, como era antigamente. O carnaval é um fenômeno social e não estatal. Ele nasceu livre e na rua e não nos gabinetes.

Então amigo você folião ou sambista que está aí chateado pois na sua cidade não vai ter carnaval em 2016. Senão não têm rabo preso com esses pilantras que estão não só tirando o nosso carnaval, mas tirando nossa terra, nossa escola, nosso hospital e também nosso humor. Se junte a uma grande parte da população que, como em 2013 está voltando paras às ruas para protestar contra os desmandos dos governos municipal, federal e estadual.

Vamos unificar as lutas dos sambistas, foliões, estudantes, professores nas ruas para assim termos uma pressão social muito mais forte contra o Estado, que vê o hoje o povo como seu inimigo, pois não tira só o pão nosso de cada dia, mas também o nosso carnaval de cada ano.
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PROFESSOR MARIANO

Historiador e pesquisador do carnaval, um dos fundadores do projeto Cadência da Bateria. 

Em suas colunas aborda o carnaval considerando os aspectos políticos e sociais e a importância dos desfiles para a construção da memória da cultura popular.

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