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quarta-feira, 25 de março de 2015

E por que não sonhar?

No sonho do Poeta, sambas, sambistas e personagens se misturam em histórias reais de um carnaval que deixou saudade, mas não morreu. Continua vivo graças aos sonhos dos que hoje se espelham nos exemplos de outrora. Nosso colunista-poeta-sonhador dedica esta coluna a outros sambistas-sonhadores que nos deixaram a missão de um novo sonho. Valeu Magaldi! Obrigado Albano!

E por que não sonhar?
por Eduardo Poeta

"Senhora da Casa ô ô ô abra a sua porta, o reisado chegou!" (Abenção, João Tapê).

Se você não viu a negra Aparecida descer, cantando e requebrando, o “Abacaxi”, via Jonhathas Botelho, com um vestido elegantemente longo feito apenas com chapinhas de "Mineirinho", você não vai entender porque a gente sonha tanto. "Como é linda a nossa união. Eu quero ver a cabrocha sambar... ô ô ô ô O Sacrifício chegou (repete)...", em verde e branco, sem nenhum sacrifício coisa nenhuma, o Sacrifício Copo e Bola saindo do quintal do "Seu" Jair, o nosso quintal, para ganhar o mundo - a avenida. A Ala dos Bruxos - Os Bruxos também amam -, bruxos sim mas, todos índios, todos bugres, que ano após ano não conseguia chegar à avenida com todos os seus componentes. 

Tudo culpa das biroscas no caminho e daquela maldita padaria (a da saideira) na esquina da Viçoso Jardim com Noronha Torrezão (ou ali já é Desembargador?), para desespero de "Seu" Maia e do grande Neline Ogeda. Ainda bem que eu ainda era ritmista e não bruxo. Era tudo carnaval; tudo era um grande sonho. 

"Eu sou Combinado, eu sou Combinado! Não adianta esse papo furado". Tá pensando o que? Isso impunha respeito, malandro e esquentava mesmo. Os caras tinham até uma águia no abre-alas... 

Por falar em Abre-Alas, olha só esse todo espelhado, gigante - seria gigante até em qualquer Marquês de Sapucaí, sim senhor -, tomando conta da Amaral Peixoto e chegando ali de frente para as barcas; dois corações que os espelhos faziam passar por mil e um tal "Pena Branca" - mais um gigante -, embalando outros tantos corações. Eu cantei também: "...e a Corações Unidos, mostra um talismã pra IaIá!" Sonhar não custa nada! É carnaval e eu só quero ser feliz "...com muito amor e TUDO SABE, NADA DIZ". 

Mas, não passa agora, não que a CHALEIRA tá queimando o chão da Conceição. Até minha mãe aparece no sonho para falar em uns tais Xavantes do Paraíso, passando ali na rua da praia. Qual é, mãe? Esse sonho não é seu, é meu. No meu eu sou Carioca, Acadêmicos também. Eu sempre gostei dos Impérios, mesmo quando eram gonçalenses que, afinal, eu nasci lá..., herdeiro de Boêmios, "Sinto que a musa me inspira, o meu ser em chama vibra, nesta festa tradicional. Acendem-se as luzes da ribalta e neste palco iluminado, o Império é o ator principal." Ficou com inveja, não é compositor? 

Era bonito demais mesmo. E lá vai Orlando do Rosário carregando o seu Império, esse de Niterói. É sonho que não acaba mais. Tinha Branco no Samba (grande Trovoada), muito preto no samba, um Poço do Anil; o nosso bafo não era de Onça, era de Tigre e samba que não acabava mais. Tinha até uma Universidade do samba ali na Mem de Sá, pode acreditar e “Por ser um dia de sábado” (ah... Gelson Martins Vidal), a gente acreditava mais. Tinham lindos cânticos de Sabiás e Canarinhos (Saudades de Luiz Carlos “Camelô”). 

Eu sonho mas, hoje sou maduro, naquela época eu era verde, muito verde e não gostava de outro vermelho que não fosse a camisa do meu América. Também não gostava "daquele Gordo". Nada contra os gordinhos, era só "aquele gordo". Mas, como não respeitar o cara? Ele e aquela turma de vermelho; todos UNIDOS para engrandecer o carnaval de Niterói. Os caras eram "sinistros" e tinham até samba do grande Geraldo Babão, meu irmão; lindo “de morrer”, por sinal. "Para ostentar sua opulência, herdades mandou levantar. Brumado- Casté, Santa Luzia e Sabará..." Bons tempos, bons sonhos, com o meu povo (olha lá o Ney Ferreira, os dois Niltons, o Pururuca, o Tuninho cheio de lero-lero, o Beto e suas quatro ou cinco letras...) no final, cantando assim: "...Quebrem taças, levem ouro, bebam vinho, “a Cubango” ganhou o tesouro." Era só o início de um sonho de cinco anos seguidos mas, isto já é uma outra história. Para sonhar depois. 

Que o carnaval atual de Niterói possa, com magia e sedução, embalar nossos sonhos futuros.

*A coluna é dedicada a Carlos Alberto Magaldi que, nesta época de sonhos estava aí, incentivando e apoiando o samba, para que hoje a gente ainda possa sonhar e a Albano de Mattos Ferreira, “aquele gordo”; talvez, o maior personagem da história dos nossos carnavais.

** Foto: "Mica e seus garotos", um dos destaques do desfile da Unidos do Viradouro em 1975

*** O áudio é uma cortesia e um carinho inestimável do amigo André Lúcio de Oliveira do Departamento Cultural da Viradouro.






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Eduardo Poeta (por ele mesmo):

"Sou da Jonathas, acesso ao "Abacaxi" mas, comecei no Bugres do Cubango. Fui ritmista, empurrador de carro alegórico, diretor de Harmonia, desfilei até com camisa de APOIO, seja lá o que for isso. Sei sambar, mané, logo, podia ter sido passista, já cantei samba na avenida mas, sou um péssimo intérprete e, não me chamaram mais; só não fui baiana porque isso não pegava bem na minha época. Também já fui compositor e consegui até ser Tri-campeão na Academia de Niterói (Cubango;uma paixão) e Hexa-campeão na princesa do "Cavalão" (Salve a Mocidade de Icaraí;um grande amor); Sou sambista.Ponto. Agora, já que deixaram, vou tirar uma onda de colunista na CADÊNCIA. Vem comigo!"


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